O mercado das matérias-primas está sobretudo associado ao petróleo, ao gás e também ao ouro. Quando se trata deste grupo, também se fala frequentemente de cereais, mas é muito menos comum falar-se de café, embora isso seja um grande erro, pois o mercado do café é um dos mercados dentro das mercadorias mais ativos do mundo, logo a seguir ao petróleo. Por vezes, é considerado um bem de luxo pelo mercado e um bem essencial pelos consumidores. Podemos falar atualmente de um défice no mercado do café e recear que a bebida possa esgotar-se em breve?
O Brasil é o rei do Arábica
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Abrir Conta TESTAR A DEMO Download mobile app Download mobile appO Brasil é o líder incontestado na produção de café mundial, mas isso aplica-se sobretudo ao café Arábica. É este café que é utilizado principalmente nas máquinas de café expresso. O Brasil é também "apenas" o segundo maior produtor mundial de café do tipo Robusta. Este tipo de café, por sua vez, é utilizado principalmente para a produção de café instantâneo. A maior parte do Robusta é cultivada na Ásia, principalmente no Vietname e na Indonésia.
No entanto, quando analisamos o comportamento dos preços do café em todo o mundo, olhamos principalmente para o Brasil e para o Arábica. Os problemas de produção no Brasil provocam frequentemente aumentos fortes do preço do café a nível mundial, enquanto que, por outro lado, as boas colheitas provocam descidas acentuadas. Estas situações prolongam-se muitas vezes durante anos. Se olharmos para os últimos 10 anos, o mercado foi mesmo inundado por novas colheitas. Embora com a procura a crescer de forma dinâmica e a registar uma ligeira paragem após 2020, tivemos dois períodos em que a oferta excedeu em muito a procura. Foram os anos 2014-2016 e 2020-2022. Apesar disso, as existências nos mercados tendem a diminuir e os preços do café encontram-se atualmente em níveis relativamente elevados. De onde vem este facto?
O segredo dos stocks baixos no mercado do café
Naturalmente, é importante saber que o café não pode ser guardado indefinidamente, como acontece com o ouro, por exemplo. No mercado das matérias-primas agrícolas, a capacidade de armazenamento é limitada - os produtos agrícolas simplesmente estragam-se. Por conseguinte, apesar do enorme excesso de oferta no mercado nos últimos anos, assistimos a uma diminuição das existências neste momento, que se encontram agora perto dos níveis mais baixos dos últimos 10 anos.
Então porquê o aumento de preços, quando havia um enorme excesso de oferta no mercado? Devido aos baixos preços do café certificado e de qualidade superior. Embora o Brasil seja o maior produtor de café do mundo, os países da América Central, incluindo a Colômbia, lideram a produção do "melhor" café. As existências de café certificado nos armazéns da bolsa ICE estavam a desaparecer há muitos anos, atingindo níveis tão baixos que nem sequer chegavam para um dia de consumo global. A falta de disponibilidade de café para abastecimento era um problema, o que resultou em aumentos muito fortes dos preços do café, que atingiram cerca de 250 cêntimos por libra em 2022. Estes foram os níveis mais elevados em mais de 10 anos. Foi em 2011 que tivemos preços próximos dos mais altos de sempre, com cerca de 300 cêntimos por libra. Em meados da década de 1990, os preços eram apenas ligeiramente mais elevados.
As baixas existências de café certificado são o resultado de uma colheita excessiva de café em todo o mundo, que, a dada altura, fez com que os preços caíssem para menos de 100 cêntimos por libra. Estima-se que o custo marginal da produção de café em plantações mais pequenas é de, no mínimo, 120 cêntimos por libra. Como os preços se mantiveram baixos durante anos, a produção de café certificado diminuiu significativamente.
Mas isto não é tudo. A 1 de dezembro, as regras de certificação do café nos armazéns do ICE vão mudar. Até agora, o café que permanecia nos armazéns durante demasiado tempo podia receber uma "penalização por antiguidade", que equivalia a alguns a uma dúzia de cêntimos por libra de café. Para evitar vender o café por valores inferiores, os comerciantes retiravam o café do armazém e recertificavam-no ou vendiam-no fora do mercado contratual. A partir de 1 de dezembro, esta prática deixará de ser permitida e o café certificado não poderá voltar a ser vendido. Nos últimos meses, muitos participantes neste mercado têm retirado stocks da bolsa para evitar a penalização por antiguidade, o que resultou numa queda forte nos inventários. Após o dia 1 de dezembro, veremos se o mercado estava realmente tão apertado e se os stocks anteriormente retirados regressarão ao mercado pela última vez. A Reuters estimou que cerca de 160 000 sacas aguardavam certificação, o que representava mais de metade das existências atualmente disponíveis.
O que se segue para os preços do café?
Os preços do café voltaram a subir em outubro, embora após descidas bastante prolongadas. A recuperação dos preços do café deveu-se à diminuição das existências e à incerteza quanto ao fenómeno meteorológico El Nino. O El Nino tende a afetar significativamente as mudanças em termos de temperatura e precipitação, o que poderia expor as culturas de café a produções mais baixas. Por outro lado, as previsões atuais apontam para um crescimento quase recorde na produção brasileira de café. Além disso, o Brasil está agora a exportar quase o máximo da sua história, o que contraria o quadro de stocks de café extremamente baixos. No entanto, os especuladores reduziram significativamente o número de posições curtas no mercado, o que sugere uma nova recuperação dos preços. A sazonalidade no mercado do café normalmente sugere preços mais altos no final do ano.
No entanto, o próximo ano é um quebra-cabeças - prevê-se uma produção global extremamente elevada de 174 milhões de sacas (60 kg), com uma procura recorde superior a 170 milhões de sacas. Se esta imagem do mercado se mantiver, será difícil que os aumentos continuem. No entanto, se a produção de café no Brasil não recuperar e o El Niño cobrar seu "tributo" negativo, o mercado poderá ficar próximo de um déficit nas colheitas de 2023/2024. Nesse caso, pode acontecer que as existências extremamente baixas dos preços do café na bolsa ICE tenham mostrado que o mercado pode efetivamente ter falta de café, pelo menos da melhor qualidade.
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