Como é que a evolução das matérias-primas pode mexer com a inflação?

11:01 27 de abril de 2022

Durante vários anos a inflação não era um tema relevante para os mercados, devido às políticas dos bancos centrais que tentaram estimular o ritmo de crescimento, sobretudo pela via dos aumentos nos salários. As metas em torno da inflação foram mais do que alcançadas, mas infelizmente esteve influenciada por factores em torno da oferta. No entanto, por vezes é difícil responder à questão se a inflação elevada é causada pelo aumento dos preços das matérias-primas.
Actualmente podemos afirmar claramente que o aumento dos preços das matérias-primas tem sido o principal contribuidor para os aumentos dos preços de praticamente todos os produtos.

Impacto directo dos preços das matérias-primas na inflação

Entre os principais responsáveis por detrás da subida dos preços que têm apoiado níveis elevados de inflação, sobretudo nos EUA e na Europa, destacamos a evolução dos preços das mercadorias. No ano passado, várias matérias-primas registaram subidas em várias dezenas por cento, sendo que este ano continua a ser marcado pelo rally em grande parte das commodities.

Numa perspectiva de longo prazo, o impacto de categorias como o pão, grãos, carne, café, energia doméstica e combustível para o transporte é insignificante:

  • Nos Estados Unidos, a contribuição das categorias das commodities representa 0,1 pontos percentuais para a inflação média de 2%.

  • Na zona euro, o impacto da mesma categoria nos últimos 10 anos é de cerca de 0,3 pontos percentuais, com a inflação média a 1,3%.

  • Analisando os dados acima, é possível chegar a conclusões que a evolução dos preços das matérias-primas têm um impacto limitado na inflação a longo prazo

No entanto, a situação é agora bastante diferente. Olhando para os últimos 12 meses, e especialmente para os dados de Março, as categorias das matérias-primas seleccionadas representam cerca de 50-60% da inflação para a zona euro, enquanto que para os EUA representam cerca de 30%.

  • Os produtos energéticos têm a maior quota-parte, tanto os de uso doméstico como os utilizados para produzir electricidade e produção de calor. A inflação dos produtores nesta categoria aumentou quase 100% numa base anual!

  • As categorias de produtos agrícolas são menos importantes nos dados da inflação global, mas a sua contribuição aumentou várias vezes em comparação com a média a longo prazo

  • O impacto dos preços da energia doméstica nos EUA é muito menor do que na zona euro, mas isto pode ser devido à forma como as categorias são definidas. Nos Estados Unidos, a categoria que diz respeito ao alojamento (principalmente custos de aluguer) aumentou acentuadamente, o que indiretamente também mostra um aumento significativo nos preços da energia.

 

Acontece que, a longo prazo, o impacto dos preços das matérias-primas na inflação é bastante limitado. Por outro lado, numa altura em que os aumentos dos preços das matérias-primas atingem várias dezenas por cento, a sua contribuição ultrapassa frequentemente os 50%. Fonte: Macrobond, XTB

Impacto indirecto da evolução dos preços das matérias-primas na inflação

Referimos que o impacto directo da evolução dos preços das mercadorias na inflação a longo prazo é bastante limitado, enquanto que a curto prazo é muito mais importante. No entanto, é preciso lembrar que os preços das matérias-primas, e em particular os preços das matérias-primas energéticas, têm um forte impacto indirecto nos custos em quase todos os sectores da economia. Por exemplo, a energia é um custo significativo da produção de pão, bem como do seu transporte.
Outro exemplo é o café, que é frequentemente transportado da América do Sul, África ou Ásia para o outro lado do mundo. De facto, podemos recorrer a inúmeros exemplos onde os produtos energéticos são necessários para o transporte de bens alimentares e não só. Jerome Powell salientou recentemente durante a audiência perante o Congresso que cada vez que o preço do petróleo aumenta em 10 dólares por barril acrescenta 0,2 pontos percentuais à inflação. Estas subidas são substanciais, considerando que o peso do preço dos combustíveis no cabaz do IPC dos EUA e de outros países é normalmente de cerca de 4-5% (directamente).

Para além da energia e dos alimentos, os preços dos metais industriais, que são a espinha dorsal na construção de infra-estruturas e meios de transporte, também estão a subir. Por exemplo, estima-se que os preços do aço, cobre, alumínio e níquel representem 10% de todos os custos de produção de automóveis. Se tivermos em conta o aumento dos preços de todas as matérias-primas que são utilizadas na produção do automóvel acima mencionado, o custo do produto final deve ser mais elevado.

Vale também a pena lembrar que, no caso de uma economia saudável, preços mais elevados das matérias-primas podem não se traduzir necessariamente num aumento dos preços do produto final, pois está relacionado com o efeito de escala. Não obstante, os produtores nem sempre transferem todos os custos para os consumidores.
A volatilidade que o relatório do IPP sobre a inflação  é definitivamente mais elevada do que o relatório do IPC. Contudo, se a inflação do IPP atingir níveis extremos como 30% YoY na Alemanha ou 15% YoY nos EUA, então tem de se assumir que alguns dos custos acabarão por ser transferidos para os consumidores.

Por outras palavras, se o preço do níquel ou do zinco subirem 100% mas se a economia permanecer estável, então há uma boa hipótese de as empresas não transferirem os custos para os consumidores a fim de evitar uma reação negativa na economia. No entanto, quando todas as mercadorias permanecem caras, e ao mesmo tempo a procura é elevada, as empresas tentarão em algum momento permanecer rentáveis, assumindo o facto de poderem perder consumidores.

 

A inflação dos produtores, onde o impacto das mercadorias é mais elevada, é muito mais volátil. As matérias-primas altamente caras podem obrigar os produtores a repercutir os custos nos consumidores de forma ainda maior. Fonte: Macrobond, XTB

Como é que pode tirar partido do atual contexto no mercado?

A inflação força os investidores a comprar activos físicos, tais como mercadorias, a fim de proteger o seu capital contra uma diminuição do poder de compra. Neste caso, o investidor pode escolher entre uma abordagem passiva ou activa. A primeira pode ser feita através do investimento da exposição em ETFs (Exchange Traded Fund) ou ETC (Exchange Traded Commodity). Mas, neste caso, não usamos alavancagem financeira e não podemos executar posições curtas.
Um dos ETFs mais vastos em termos de exposição às matérias-primas é o ETF da iShares Diversified Commodity SWAP UCITS ETF (ICOM.UK na plataforma XTB), que replica as variações no Índice de Mercadorias da Bloomberg Commodity USD Total Return Commodity.

O ETF replica o índice de mercadorias da Bloomberg está fortemente correlacionado com o preço do Brent, embora seja composto por outras commodities. Fonte: xStation5

É claro que é possível obter exposição directa ao mercado, por exemplo através de ETC Deutche Boerse Commodities Gmbh Xetra-Gold Bearer Notes (4GLD.DE) que replica as variações no preço do ouro. Para o petróleo, este poderia ser Wisdomtree Crude WTI Crude Oil (CRUD.UK), que não só segue o subíndice Bloomberg para o WTI, mas também dá um retorno colateral.

Adoptando uma abordagem mais pró-activa, podemos decidir investir em mercadorias através de CFDs. Neste caso, temos à nossa disposição uma vasta oferta em matérias-primas, onde podemos utilizar adicionalmente a alavancagem financeira, de modo a que o investidor possa executar posições longas e curtas. As matérias-primas mais populares são o petróleo (OIL), gás natural (NATGAS), café (COFFEE), trigo (WHEAT) e cobre (COPPER).

Existe também uma forma indirecta de investir nesta classe  de activos. Os investidores podem comprar ações de empresas que estejam expostas a este mercado, tais como a KGHM (KGH.PL) , que está fortemente correlacionada com os preços do cobre, ou a Shell (RDSA.UK), muito relacionada com os preços do petróleo. Podemos também encontrar empresas mais "exóticas" que operam em mercados que não são facilmente acessíveis através de contratos como a Lithium Americas Corp. (LAC.US) que está correlacionada com os preços do lítio, ou Cheniere Energy (LNG.US), relacionada com o gás LNG.

Quanto tempo pode durar o atual rally nos preços das matérias-primas?

Os ciclos de crescimento das mercadorias podem durar até 10-anos. Teoricamente, o recente fundo  ocorreu no início da pandemia, em Março de 2020. Isto significaria que estamos apenas no início da tendência de alta. É claro que uma inflação desenfreada pode também levar a um recuo dos preços das commodities.
Outro factor que deve ter em conta é o aumento das taxas de juro, que pode tornar os investimentos em obrigações mais atrativos para os investidores. No entanto, é preciso lembrar que os preços das matérias-primas continuam a ser influenciados por muitos factores que podem levar à continuação das tendências actuais durante muitos anos.

A percentagem de bens energéticos no PIB global é realmente elevada e tem vindo a crescer nos últimos anos, o que indica que as variações nos preços desta classe de ativos podem ter um impacto significativo na inflação nos próximos tempos. Os preços de algumas commodities estão a aproximar-se dos seus máximos históricos (ATH), embora os mais importantes estejam ainda muito abaixo dos seus ATH. Fonte: Bloomberg, XTB

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