A instabilidade política na Turquia durante o mandato de Erdoğan tem tido vários momentos marcantes, mas podemos dizer que se intensificaram a partir de 2013, com os protestos do Parque Gezi. Desde então, registou-se uma escalada na repressão política, no autoritarismo e nas crises económicas e sociais.
Recentemente, o Banco Central da Turquia (CBRT) teve que intervir para estabilizar os mercados após a detenção do principal opositor do Presidente Recep Tayyip Erdoğan na semana passada, que desencadeou o maior sell-off na lira turca desde 2021.
Os mercados não têm sido indiferentes aos últimos acontecimentos, sendo que a bolsa de Istambul tem vindo a recuar fortemente desde o dia 18 de Março, ao mesmo tempo que a lira tem vindo a desvalorizar contra as principais moedas como o dólar americano e o euro. A juntar a isto, o custo da proteção contra incumprimento da dívida soberana turca (CDSs) têm disparado ao longo dos últimos tempos, apesar de estarem a recuar, depois de terem atingido o nível mais alto dos últimos 12 meses.
Estas movimentações voláteis que ocorreram recentemente surgem também numa altura em que os principais responsáveis pela economia da Turquia estão a discutir um conjunto de medidas para defender a lira. As próximas decisões foram debatidas em reuniões lideradas pelo ministro do Tesouro e das Finanças, Mehmet Simsek, durante o fim de semana. Recentemente, foi até anunciado a suspensão do “short selling” no mercado sobre a lira turca, evitando assim o posicionamento dos traders sobre a moeda.
No mercado cambial, é visível a volatilidade nos mercados associada à incerteza e também ao contexto macroeconómico onde a taxa de inflação no país é elevadíssima (em Fevereiro a taxa de inflação estava 39,05%). Juntado a isto, também o facto do CBRT estar a reduzir as taxas de juro (que também estão elevadíssimas - 42,5%), está a contribuir para a desvalorização da moeda.
Desempenho do euro em relação à lira turca (gráfico laranja) e bolsa de Istambul (gráfico a azul) ao longo dos últimos 10 anos. Fonte: Koyfin
Henrique Tomé,
Analista XTB